O vírus pode estar em qualquer lugar e nossos olhos não conseguem notar.
Uma pesquisa recente diz que ele pode viver até 9 dias em muitas diversas superfícies.
O corona é invisível, como também nos era nosso vizinho idoso que agora recebe visita constante da família para não ter que sair para comprar
suprimentos.
Sem vê-lo, tentamos evitá-lo e exterminá-lo. Tentamos? Nem tanto. Hoje tinha gente no mercado sem saber (ou sem ligar) de manter a distância de mais de um metro para não contrair e disseminar. Senti-me invisível como sempre, mas já não é hora de sermos mais. Temos que olhar uns para os outros como nunca. Deixar o outro ir sozinho no elevador, esperar voltar pra entrar, evitar contaminar.
Os médicos usam óculos como nunca, mas não para ver melhor, são de proteção, para o invisível não entrar. Não vemos o que entra pelos nossos olhos… desde quando fazemos isso? Desde o surgimento da TV, da internet ou do Instagram?
Da minha varanda, vejo meus vizinhos que eram invisíveis tocar a maçaneta da entrada do hall, muitíssimas vezes, e me arrepia.
Penso: “será que vão lavar a mão quando chegarem em casa?”, “porque não usam o cotovelo ou o corpo para abrirem e empurrarem a porta”,
“será que evitaram contato na rua?”.
Agora me importo com eles mais do que antes, os vejo mais. A saúde deles é também a minha e de meus entes queridos, mais imediatamente do que eu imaginava ser.
Hoje, às 20h30, vi, ouvi e bati palmas para os profissionais de saúde que estão, mesmo com medo e muito expostos aos riscos, cuidando das nossas vidas. Não estão tão invisíveis assim a quem deles não necessita. Todos os veem mesmo não estando nos hospitais com eles. Unimo-nos, mesmo distantes.
Em casa vejo mais minha família e imagino o quanto estejamos todos vendo mais uns aos outros que escolhemos ter no mesmo lar. Vemos que tem unhas pra cortar, tem livros pra sair da estante, tem falta de abraçar. O que você está vendo que não via?
O vírus invisível nos fez ver o mundo como uma comunhão, nos faz olhar pra dentro de casa, pra dentro dos nossos, pra dentro de nós mesmos.
Em Terra de coronavírus, que tem olhos de ver, que veja.
Infelizmente, tem gente vendo só o próprio umbigo e reclamando da vida, como se fosse a única a ser abatida pelo vírus que está aí pra mostrar que a humanidade está colhendo os frutos do próprio egoísmo.
Hoje vi lixo reciclável no cesto do lixo orgânico do condomínio e questionei: “por que ainda não veem que isso afeta a si mesmo?”. Indigno-me. Quanto tempo teremos que padecer para que todos vejam que “o essencial é invisível aos olhos”, que todos somos um?