A vida feliz não tem status, roupas de marca, viagens ambicionadas, nada de luxo. Ela acontece na simplicidade da sua vida reclusa, dentro de você.
Tem uma vizinha minha do prédio da frente fazendo ginástica no chão da sala em frente ao computador dando aula virtual pra outras pessoas, inclusive a mãe dela, porque, às vezes ela diz algo como “tem que fazer oito dessas mãe!”. Simpatizo-me com ela. É animada com o povo: “vamos lá gente!” Ela está no térreo e eu no sexto, e podia até fazer junto. Ela me faz sorrir, anima os outros, é verdadeira.
Os músicos famosos não estão mais nos grandes palcos com grandes produções, cantando para grandes públicos. Estão em casa ensaiando ou fazendo lives. Desceram do salto, estão de pantufas, querendo sua atenção daí onde você está, sem que precise sair do lugar. O covid-19 pôs todo mundo em casa, no mesmo nível de atuação.
Agora mesmo, tem um músico do prédio ao lado fazendo um show da varanda para o nosso condomínio. A arte vem salvando as pessoas da solidão e do medo, nas telas e nas sacadas. Que passemos a dar o devido valor à arte, que é militante, no nosso país.
Tenho minha filha do meio aqui na sala de casa, curtindo o desafio de fazer slime com menos ingredientes e vencendo a frustração de ter dado errado no meio da tarde. Agora já tá fazendo bubble pops toda contente.
Assisto de longe ou encontro às vezes no hall, os funcionários da limpeza do prédio. Estão sendo verdadeiros heróis, o tempo todo limpando tudo para nossa segurança. Esse trabalho “escondido” agora tem a atenção de todos e, mais do que nunca, a gratidão de todos.
É nos recônditos dos lares em confinamento e nas palavras escondidas nas mensagens e chamadas para nossos amados e amigos – que ninguém vê de verdade, só aquilo que a gente decide publicar por aí – , que está a vida feliz de verdade.
As redes sociais e internet estão sendo usadas para divulgar informações essenciais, promover aulas online, enviar trabalhos escolares, fazer home office. Não estão mais tão supérfluas como antes da pandemia. A tecnologia é grande, mas deve estar à serviço do que importa de verdade, e não a tanta distração que se cria.
Quanta saudade você está sentindo de quem teve a oportunidade de ver antes da reclusão e não viu? Quantos movimentos importantes você podia ter feito antes de estar cerrado em casa e perdeu tempo com outros menos?
A vida feliz, não é a grande, já disse o grande Bert Hellinger. É aquela que acontece dentro de você quando seu coração salta de alegria, quando pode extravasar em segurança suas lágrimas contidas, quando tem o ouvido de um amigo para as dores escondidas. Está em admirar o pôr-do-sol de uma tarde recolhida. A vida feliz é aquela em que você quer compartilhar o que tem de melhor com desconhecidos (como os músicos das varandas quarenteners) porque sabe que eles estão passando por momentos difíceis.
A vida feliz é a que se encerra em um barco, onde estamos todos unidos!