Mariana – Página: 9 – Por Vidas e Trabalhos com + Propósito

O que há por trás das birras consumistas

O que há por trás das birras consumistas

Da mesma forma que quem não abandona o consumismo não consegue dar uma infância livre aos filhos, quem não se olha, não consegue olhar os filhos.

Você já parou pra se perguntar por que as crianças pequenas fazem tanta birra quando ouvem um “não” como resposta, ainda mais quando se trata de consumir algo? Seria só uma expressão de revolta pela frustração? Ou um teste para saber até onde podem ir? Poderia ser outro o motivo das manhas homéricas?

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A caminho do “terrible two”. Novembro/2010.

Foi refletindo a partir de um assunto levantado na nossa Roda de Mães e Bebês de São Sebastião, que decidi escrever este artigo. Na ocasião, algumas mães falavam da dificuldade em lidar com seus bebês que estavam na fase de fazer “birra”, principalmente quando percebiam um público razoável para tal, o que as colocava em situações embaraçosas, já que não sabiam como reagir para repreender/compreender/atender/limitar, e por aí vai.

A discussão me fez lembrar de quando meu filho mais velho executava suas diversas “performances”, principalmente em portas de lojas, quando comecei a dizer não mais firmemente ao seu consumismo, por volta dos seus 2 anos e meio de idade.

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Fazendo graça no mercado. Novembro/2011.

Nossa querida psicoterapeuta do grupo nos deu uma luz: sugeriu que nomeássemos diversamente a “birra”, chamando-a mais propriamente de “protesto”.  Pois claro, é também disso que se tratam essas manifestações aparentemente exageradas, um chamado para algo oculto que incomoda deveras os pequenos, que aproveitam as oportunidades para expressar o incômodo inenarrável.

Segundo o discurso tradicional, “as birras infantis acontecem porque a criança não tem maturidade suficiente para lidar com frustrações, sendo que, através da birra ela testa o limite, tenta manipular os pais ou simplesmente “pede socorro” pois está tendo de lidar com esse sentimento novo, a frustração”. Isso ocorre até 5 anos de idade mais ou menos, quando as crianças ainda estão aprendendo sobre limites e regras sociais. (Artigo aqui).

Ainda segundo o discurso padrão, “os pais têm um papel fundamental ao conter seus impulsos desenfreados e, se agirem de forma errada, como ceder à chantagem do filho, por exemplo, estarão contribuindo para que ele venha a ter sérios problemas, especialmente no futuro, como: não conseguir lidar com o fracasso, desistir facilmente de seus projetos, cometer delitos para conseguir o que quer, insubordinação e tornar-se um adulto imaturo.”

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Itamambuca, Ubatuba. Dezembro/2011.

Naquela época, eu seguia o discurso padrão e agia de forma a limitar essas manifestações somente, acreditando ser essa a melhor atitude, mas, às vezes, minha intuição falava mais alto e eu percebia que não era só uma questão de impor limites e refletia sobre o que poderia ser. Além disso, cada vez mais eu me aproximava do meu pequeno para compreender suas emoções e sentimentos.

Hoje, uns 4 anos depois, acredito que esse discurso é limitado, autoritário e nega as peculiaridades de cada criança e cada situação.

Penso que crianças, até dominarem completamente a linguagem verbal, se utilizam dos mais variados recursos para se fazerem ouvir, para conseguirem ser atendidas em suas necessidades. Como não sabem exprimir exatamente suas demandas, se utilizam das mais diversas oportunidades para expor suas insatisfações, inclusive, amplificando as expressões para liberar emoções que são muitas vezes suprimidas.

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Diversão na cama elástica. Março/2012.

A discussão me fez lançar um outro olhar para as “birras” que meu filho fazia, na época em que tinha a mesma idade das bebês em questão. Percebi que, além de se tratar de uma fase da idade, do não saber lidar com o “não”, de tentar estender seus limites, meu primogênito também se utilizava do motivo de consumir sem necessidade para gerar os enfrentamentos que precisava para por pra fora suas pulsões reprimidas, suas dores encapsuladas.

Entendi, inclusive, que grande parte da exaltação ocorria porque eu lhe negava o novo, que, assim como para todos os consumistas, sejam eles adultos ou crianças, traz um bem-estar efêmero, mas os faz fugir, por alguns instantes que seja, da realidade dura… afinal, todos temos nossas agruras, independente da idade, situação econômica, etc.

Também, percebi outra coisa com relação ao que ocorria com o Fernando: que o ganhar coisas simbolizava ganhar afeto para ele, e, por isso, ele se revoltava tanto quando eu dizia “não” a uma coisa inútil a mais. Para ele, eu não estava dizendo “não” para a coisa em si, mas para o ato de dar, para dar-lhe “afeto”. Entendi que quando ele insistia que “precisava” por inúmeros motivos, ele estava me dizendo que “precisava de afeto”, pois essa era uma das formas, a mais viciante, através da qual ele aprendeu receber afeto enquanto moramos em São Paulo, eu trabalhava dia e noite e ele era a única criança da família.

Como dissémos “não” ao consumismo infantil

Como dissémos “não” ao consumismo infantil

Para incrementar o último artigo, Como dizer “não” para o consumismo dos filhos, gostaria de compartilhar como foi o início da nossa experiência de dizer “não” ao excesso de consumo e “sim” à vida realmente rica. Segue adiante: Vejo a enorme diferença no quesito “consumismo” do meu primeiro filho para a segunda. Com ele eu ainda consumia muito e não…

Como dizer “não” para o consumismo dos filhos

Como dizer “não” para o consumismo dos filhos

O mercado apela para nossas carências ocultas e o consumismo se configura para satisfazê-las. Se ele não existisse, não saberíamos que haveria um problema. O desequilíbrio exterior vem sempre de um desequilíbrio interior. Se acreditamos que precisamos de tantas coisas é porque falta que nos apoderemos de nós mesmos. O consumismo tanto adulto quanto infantil revela uma falta de conexão consigo. A…

MENOS telas para MAIS vida

MENOS telas para MAIS vida

ou

Porque você deve reduzir o consumo de mídia em tela da sua família

Por Mariana Fernandez
O essencial: onde está o seu olhar? para onde seus filhos olham? Olhar estelar <3
Essencial: onde está o seu olhar? para onde seus filhos olham? Olhar estelar <3

“Baby steps” para consumir menos

Na língua inglesa há a expressão corrente “baby steps”, que traduzida literalmente para o português seria passos de bebê. As expressões similares na nossa língua seriam: “pouco a pouco”,”um passo de cada vez”, “engatinhando”, “primeiros passos”. Todas significam a mesma coisa: que “devagar se vai ao longe”. Mas, para onde estamos indo? E para onde estamos guiando os “baby steps” dos nossos filhos?

Continuando o artigo Bebê livre de consumismo, falo a seguir do primeiro passo para ficar mais leve, com menos coisas, e poder, você e seus pequenos, irem muito mais além… “voar, voar, subir, subir…”.

Claro que esse primeiro passo é diverso para cada um de nós, que desejamos uma vida mais livre tanto para nós quanto para nossa família. Cada um sabe o que é mais fácil ou mais urgente fazer para mudar a própria vida e a dos filhos, mas esse passo aí adiante é meio que obrigatório pra quem quer mais liberdade, e terá que ser dado mais cedo ou mais tarde.

Assim como cuidamos dos primeiros passos dos nossos bebês, dizendo-lhes onde ir ou não, cercando-lhes o entorno para não caírem, dando-lhes as mãos no início para lhes dar confiança e apoio em qualquer deslize, é assim, com muito cuidado, que devemos fazer com os primeiros passos dos nossos bebês em direção a uma vida mais livre, que serão, concomitantemente, nossos primeiros passos para um novo modelo de vida: OFFLINE, ONLIFE.

Conduzir um novo ser nesse mundo, que ainda está tão do lado do avesso, é, além de uma baita responsabilidade, uma ótima oportunidade para renascermos e criarmos um novo estilo de vida, mais feliz para mães, pais e filhos.

E aí, vamos andar?

Menos informação invasiva, menos meios frenéticos ou, simplesmente, menos telas

Ampliando a consciência, o direito de escolha, a experiência

Buscar uma vida livre de consumismo é obrigatoriamente, buscar uma vida mais do SER e menos do TER. Onde, sabendo o que queremos (consciência), escolhemos melhor e experienciamos mais. E, uma vida assim, do Ser, é uma vida mais conectada com o Universo, com a fonte, sem intermediários.

Fernandinho bebê, fazendo grass terapy em Araçoiaba da Serra, em 2009.

Então, de um modo geral, para termos uma vida mais conectada, ela tem que ser o menos mediatizada possível. Se há um meio entre você e a experiência, então essa experiência está formatada, limitada, padronizada.

Ou seja, evitar ao máximo o consumo de mídia já é um grande passo para sobrar tempo para a vida real. Quanto mais conectados estamos com o lado de fora, menos conectados estamos com o lado de dentro.

Estou falando aqui do tipo de mídia caracterizada como terciária, onde a mensagem é elétrica, móvel, veloz, espectral, a do tipo que não dá tempo para “parar” e “pensar” enquanto estamos conectados a elas, ou seja: AS TELAS!

Para entender os conceitos de mídia primária (corpo), secundária (escrita, desenhos, arte, etc, prolongamentos do corpo) e terciária (eletricidade e derivações), leia mais aqui.

Outro aspecto ruim do consumo de mídia refere-se ao conteúdo do que consumimos. Sabe aquele ensinamento crístico “Não se pode servir a Deus e a Mamon”? Pois é, a grande mídia, de um modo geral serve quem tem poder sobre ela, ou seja, Mamon. Assim, consumir produções midiáticas, generalizando, é consumir ideais de manutenção do mercado.

Se você ainda possui a ideia de que para que algo seja consumível é necessário que seja palpável, abandone-a já. O consumo de informação através das diversas mídias, e dos bebês exclusivamente através de telas, é uma economia colossal. Porque, como já disse, além dos produtos publicizados pela mídia, consumimos, sobretudo, os conceitos de manutenção do próprio mercado consumidor. Assim, se o conteúdo emitido pela mídia não te faz consumir algo de forma direta, o faz de forma indireta, seja despertando nas crianças o desejo de consumir os produtos desnecessários, publicizados freneticamente entre um desenho e outro, seja perpetuando valores controversos ou apresentando como natural a escassez de muitos versus a abundância de poucos.

Considere reduzir o espaço que as telas ocupam em sua vida, para que você tenha vida, para que seus filhos tenham você na vida deles. Cancele a TV a cabo, desligue o WI-FI todos os dias e só volte a ligar quando for usar para algum propósito útil, deixe acabar a bateria do celular e só volte a carregá-la quando precisar ligar para alguém… enfim, use a sua criatividade para boicotar as telas, para o seu bem e dos seus pequenos.

Quanto mais cedo mais livre

Eliminar as telas é um grande primeiro passo. Digo eliminar e não limitar porque embora todas as crianças – e adultos – devam ter acesso limitado, ou nenhum, às telas, para terem saúde acima de tudo, bebês até dois anos de idade não devem ter acesso algum a elas.

Aqui, as razões além do consumismo pelas quais seu bebê não deve ter acesso algum à TV.

 

15 atitudes para criar tempo já

15 atitudes para criar tempo já

e fazer o que realmente importa:

Leia também Como criar tempo.

1. Elimine os relógios: da parede, do pulso, do carro, eles são os sentinelas da prisão da qual você tem que sair.

“Em vez de sentirmos a presença invisível de um imenso relógio na parede, denunciando-nos os minutos, as horas que estamos perdendo com essa conversa com nosso amigo, com nossos filhos, com as pessoas que vêm falar conosco, em vez de percebemos em toda parte os olhos desse deus-velocidade a nos vigiar e a nos cobrar rapidez, troca contínua de situações, saltando por cima de coisas atrás de coisas, em vez de nos submetermos voluntariamente a esse terror vácuo, um dia poderíamos começar a sentir o tempo, o presente, o prazer da permanência, do não-pensar-no-futuro, do deixar-a-coisa-passar. A satisfação de poder perder tempo e sentir um gosto novo de, pela primeira vez, estar presente no planeta.” (Ciro Marcondes Filho, Perca Tempo – É no lento que a vida acontece)

2. Utilize outros meios de aviso: há inúmeros aplicativos para celular que podem te auxiliar mas há também a boa e velha agenda. Eu utilizo o Google Calendar que me avisa com a antecedência necessária meus compromissos. Obs: Não caia na armadilha de agendar coisas demais, porque em vez de a agenda funcionar como um alerta para fazer o que deve ser feito, na hora em que tem que ser feito e liberar sua mente das preocupações, pode também funcionar como uma lista imensa de coisas nada importantes realmente para a sua felicidade. Há pessoas (como eu) que caem na armadilha de encher a agenda de “linguiça” e ficar “sem tempo” para realizar o mais importante: fazer o que faz o coração vibrar, amar, ficar de boa, etc.

3. Durma cedo e ponha seus filhos (se tiver) pra dormir cedo: a vida rende pela manhã. Se não der pra dormir pouco depois que a noite cai, não durma após a meia-noite. Dormir no dia seguinte não é muito natural. Aproximemo-nos dos ciclos naturais, dos nossos ciclos. Por mais que você seja noturno, você não é um morcego, nem uma coruja, então, durma. Para nós, adultos, dormir cedo ainda previne a ansiedade e a obesidade. Quanto aos seus filhos, crianças devem “dormir com as galinhas” por muitos motivos: crescer o que tiver que crescer (a maior produção do GH, o hormônio do crescimento é sempre à noite, das 21 às 4 horas da manhã e quando a criança não está na cama neste horário, a produção de GH declina e ela cresce menos); fortalecer os ossos com o sol da manhã (dormindo tarde, consequentemente, acordarão tarde e perderão essa bênção matinal, já que por meio do sol, nosso organismo obtém a vitamina D e, com ela, melhora a absorção do cálcio, fortalecendo os ossos); ajustar o relógio biológico (a melatonina, hormônio que estimula o sono e indica ao cérebro que é noite, é produzido das 20 às 21h30, depois deste horário a criança volta a se agitar, embora ainda continue com sono, e é difícil convencê-la de que ainda é hora de dormir, pois a mensagem do organismo já passou); melhorar a capacidade de aprendizagem e ajudar a memória.

Caminhada matinal no Pontal, com o suave som das ondas.
Caminhada matinal no Pontal, com o suave som das ondas.

4. Destralhe sua casa, trabalho e carro: elimine superfícies planas, gavetas e portas. Dê o que é útil para os outros mas não para você, até aquelas taças lindas se você não bebe, ou vai ter que, pelo menos, perder tempo todo mês para mantê-las limpas. Se desfaça do que está velho sendo possível casa de traças (saúde não tem preço). Se livre daquelas roupas que nunca mais irão te servir. Dê prazo para o que tem dúvida se te serve pra algo, por exemplo,  um ano para aquele vestido de festa, um mês para aquela calça jeans. Conserte o que te é útil e só está atuando como entulho. Tire do seu ambiente o que somente está tomando espaço e te custa tempo para organizar e limpar de vez em quando. (Logo escreverei sobre como destralhei minha casa e, consequentemente, minha vida. 🙂 )

5. Organize suas coisas: depois de destralhar é hora de organizar o que sobrou, o que te serve e te faz bem. Aplicar um consumo saudável nessa hora ajuda e muito. Não tem preço o tempo que você economiza de procurar suas chaves quando você tem um porta-chaves. Utilize também ganchos de teto, porta e parede: são baratos, pequenos, portáteis, somente para aquele bem útil (não são itens de acumulação) e são fáceis de localizar. Troque armários por módulos abertos: estantes, prateleiras, nichos. Você acha com mais facilidade, usa o que tem utilidade, percebe o que não tem e o destralhe se torna um hábito até que sua casa e/ou trabalho fiquem muito mais enxutos. Em locais úmidos, essa mudança também impede que as coisas cheirem mal e até mofem, além de ventilar mais, sendo menos propício para traças, baratas, roedores, etc.

6. Limite sua conexão virtual: esse é um desafio pra muita gente, pra mim inclusive. Além de economizar tempo, permanecer menos tempo logado te dá mais liberdade de conexão interior, e exterior, com o mundo real. Desligue os avisos de What’s up, Facebook, Instagram, etc. Discipline-se quanto a este item. Tecnologia vicia, excesso de informação também. Adquira hábitos saudáveis como acessar a internet apenas após o almoço ou manter o celular fora de alcance enquanto dorme. Sem um celular nas mãos dá pra se apreciar melhor o firmamento, sentir a brisa no seu rosto, perscrutar mais fundo a carinha dos seus filhos. <3

7. Elimine os apêndices: sabe aquele projeto que é sempre adiado? Aquela tarefa que vive na sua agenda mas que você nunca consegue tempo para executá-la? Desista, elimine de vez da sua agenda, das suas metas, da sua vida. Pare de pensar no que não é importante AGORA e otimize sua vida para o que realmente importa. Use a procrastinação para manter o seu FOCO.

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