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Porque você deve reduzir o consumo de mídia em tela da sua família
Por Mariana Fernandez
“Baby steps” para consumir menos
Na língua inglesa há a expressão corrente “baby steps”, que traduzida literalmente para o português seria passos de bebê. As expressões similares na nossa língua seriam: “pouco a pouco”,”um passo de cada vez”, “engatinhando”, “primeiros passos”. Todas significam a mesma coisa: que “devagar se vai ao longe”. Mas, para onde estamos indo? E para onde estamos guiando os “baby steps” dos nossos filhos?
Continuando o artigo Bebê livre de consumismo, falo a seguir do primeiro passo para ficar mais leve, com menos coisas, e poder, você e seus pequenos, irem muito mais além… “voar, voar, subir, subir…”.
Claro que esse primeiro passo é diverso para cada um de nós, que desejamos uma vida mais livre tanto para nós quanto para nossa família. Cada um sabe o que é mais fácil ou mais urgente fazer para mudar a própria vida e a dos filhos, mas esse passo aí adiante é meio que obrigatório pra quem quer mais liberdade, e terá que ser dado mais cedo ou mais tarde.
Assim como cuidamos dos primeiros passos dos nossos bebês, dizendo-lhes onde ir ou não, cercando-lhes o entorno para não caírem, dando-lhes as mãos no início para lhes dar confiança e apoio em qualquer deslize, é assim, com muito cuidado, que devemos fazer com os primeiros passos dos nossos bebês em direção a uma vida mais livre, que serão, concomitantemente, nossos primeiros passos para um novo modelo de vida: OFFLINE, ONLIFE.
Conduzir um novo ser nesse mundo, que ainda está tão do lado do avesso, é, além de uma baita responsabilidade, uma ótima oportunidade para renascermos e criarmos um novo estilo de vida, mais feliz para mães, pais e filhos.
E aí, vamos andar?
Menos informação invasiva, menos meios frenéticos ou, simplesmente, menos telas
Ampliando a consciência, o direito de escolha, a experiência
Buscar uma vida livre de consumismo é obrigatoriamente, buscar uma vida mais do SER e menos do TER. Onde, sabendo o que queremos (consciência), escolhemos melhor e experienciamos mais. E, uma vida assim, do Ser, é uma vida mais conectada com o Universo, com a fonte, sem intermediários.
Então, de um modo geral, para termos uma vida mais conectada, ela tem que ser o menos mediatizada possível. Se há um meio entre você e a experiência, então essa experiência está formatada, limitada, padronizada.
Ou seja, evitar ao máximo o consumo de mídia já é um grande passo para sobrar tempo para a vida real. Quanto mais conectados estamos com o lado de fora, menos conectados estamos com o lado de dentro.
Estou falando aqui do tipo de mídia caracterizada como terciária, onde a mensagem é elétrica, móvel, veloz, espectral, a do tipo que não dá tempo para “parar” e “pensar” enquanto estamos conectados a elas, ou seja: AS TELAS!
Para entender os conceitos de mídia primária (corpo), secundária (escrita, desenhos, arte, etc, prolongamentos do corpo) e terciária (eletricidade e derivações), leia mais aqui.
Outro aspecto ruim do consumo de mídia refere-se ao conteúdo do que consumimos. Sabe aquele ensinamento crístico “Não se pode servir a Deus e a Mamon”? Pois é, a grande mídia, de um modo geral serve quem tem poder sobre ela, ou seja, Mamon. Assim, consumir produções midiáticas, generalizando, é consumir ideais de manutenção do mercado.
Se você ainda possui a ideia de que para que algo seja consumível é necessário que seja palpável, abandone-a já. O consumo de informação através das diversas mídias, e dos bebês exclusivamente através de telas, é uma economia colossal. Porque, como já disse, além dos produtos publicizados pela mídia, consumimos, sobretudo, os conceitos de manutenção do próprio mercado consumidor. Assim, se o conteúdo emitido pela mídia não te faz consumir algo de forma direta, o faz de forma indireta, seja despertando nas crianças o desejo de consumir os produtos desnecessários, publicizados freneticamente entre um desenho e outro, seja perpetuando valores controversos ou apresentando como natural a escassez de muitos versus a abundância de poucos.
Considere reduzir o espaço que as telas ocupam em sua vida, para que você tenha vida, para que seus filhos tenham você na vida deles. Cancele a TV a cabo, desligue o WI-FI todos os dias e só volte a ligar quando for usar para algum propósito útil, deixe acabar a bateria do celular e só volte a carregá-la quando precisar ligar para alguém… enfim, use a sua criatividade para boicotar as telas, para o seu bem e dos seus pequenos.
Quanto mais cedo mais livre
Eliminar as telas é um grande primeiro passo. Digo eliminar e não limitar porque embora todas as crianças – e adultos – devam ter acesso limitado, ou nenhum, às telas, para terem saúde acima de tudo, bebês até dois anos de idade não devem ter acesso algum a elas.
Aqui, as razões além do consumismo pelas quais seu bebê não deve ter acesso algum à TV.
Mas, falando apenas do que se pretende este artigo, sem citar motivos de saúde para evitar ao máximo o uso de telas, assistir a qualquer tela já é, por si só, um hábito consumista, devendo ser o quanto possível evitado, ainda mais de ser adquirido precocemente.
Ao nos colocarmos frente às telas não absorvemos apenas publicidade direta mas todos os conceitos da sociedade do consumo, impregnados em todas as narrativas, sejam elas fictícias ou não. Trata-se de limitar a própria mídia como produto cultural, e a TV aberta ou a cabo, ainda, é a grande vilã, a grande doutrinadora de mentes em favor do consumo desnecessário, desde quando o bebê pode fixar seu olhar na tela para ser doutrinado, porque é lá que o discurso consumista se desenrola ininterruptamente, envolvendo hipnoticamente o telespectador.
Sabendo que é durante a Primeira Infância (período que compreende desde a concepção até o ingresso na educação formal) que formamos todo nosso rol de crenças, que levaremos até o resto da vida, vemos que deixar a televisão definir as crenças dos nossos filhos é deixar que a mídia e o sistema consumista ensine eles no que acreditar, é permitir que se formem outro seres com a liberdade tolhida, e menor liberdade, sempre é maior infelicidade.
Para criarmos um mundo novo, mais feliz, é preciso que haja espaço para a criatividade acontecer.
Outra razão de se impossibilitar a entrada das telas na vida do seu bebê é o fato de que quanto mais cedo, nós humanos, nos habituamos a algo, mais familiar/natural esse hábito se fixa em nossa psique e mais difícil se torna de o percebermos como algo perigoso. Afinal, se nossos pais nos educaram a assistir TV, eles não queriam nosso mal, certo? Então, esse hábito não deve ser algo ruim, correto? É assim que uma criança raciocina. Os pais são a segurança pra eles e tudo o que é vindo dos pais ou com a permissão deles deve ser algo seguro. Mas, pelo estilo de vida que aceitamos que nos impõem, não é.
No mundo todo a idade com que as crianças começam a assistir televisão é cada vez menor. Segundo dados do IBOPE, as crianças brasileiras passam em média 5 horas diárias em frente da TV e assistem aproximadamente 40 mil propagandas em 1 ano.
Minimiza-se os efeitos insalubres das telas quando eliminamos a TV da vida. A “babá” TV abduz seus filhos para que você possa executar serviços domésticos ou de home office, enquanto introjeta em suas mentes toda a realidade da qual você se esforça para fugir, e, além disso, os ensina a permanecer em estado letárgico de recepção em vez de em estado conectado de criação. Com o altíssimo consumo de mídia em tela pelas crianças na atualidade, dá pra entender porque elas são tão agitadas e “impossíveis”, já que ficam mais tempo armazenando que utilizando sua energia criativa.
No atual contexto, esse tipo de mídia, embora seja muito útil para mantermos as crianças ocupadas sem esforço algum da nossa parte, deve ser utilizado com muita moderação, porque é, sobretudo, um aparato a serviço do sistema que perpetua a desconexão continua dos seres, um real aliado à infelicidade.
Eu, mãe de 3, sei bem que não é fácil não contar com a TV, por isso estou em busca dessa libertação de forma gradativa, eliminando a TV aberta e à cabo como primeiro passo, para depois seguir para a eliminação do aparelho.
Ainda utilizamos o serviço de streaming, onde os conteúdos, além de serem selecionados, não são veiculados ininterruptamente como na programação dos canais de TV, o que proporciona mais consciência do quanto estamos consumindo de mídia, já que, quando o conteúdo selecionado finda, volta-se à lista do aplicativo. Por isso, assistir a narrativas audiovisuais por streaming, seja via TV ou via computador, diminui o tempo em que permanecemos em estado de passividade.
Porém, esse tipo de serviço não possui (pelo menos não no Brasil) a possibilidade de censura, o que continua expondo as crianças a conteúdos não apropriados e ao excesso de informação (outro fator prejudicial do consumo de mídia em tela e de dificílimo controle, que abordarei num próximo artigo).
O meu primeiro passo para sair do sistema foi, em 2011, mudar de São Paulo para o litoral norte do estado, o que nos libertou de shoppings e colocou mais natureza e convívio de qualidade na nossa vida, já a limitação de telas do meu primeiro filho, só consegui quando a segunda nasceu.
No próximo artigo, trago mais uma medida que implementei na vida da minha família, para transformarmos a nossa vida numa vida de mais liberdade, com experiências realmente ricas.
Com amor. <3
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