Há cinco anos, eu entrevistei Newton Figueiredo para a revista Gestão de Riscos. Newton é engenheiro naval e Presidente do Grupo SustentaX, que atua nos setores de Engenharia de Sustentabilidade, Gestão Energética Integrada, Descarbonização e Neutralização de Gases de Efeito Estufa – GEE entre outras, além de fornecer o selo SustentaX a produtos testados e aprovados em sua sustentabilidade.
Na entrevista, ele falou das atitudes desprezíveis das empresas que tentam “empurrar” um produto ruim ao enaltecerem suas embalagens recicláveis ou recicladas, além de outros assuntos ligados ao tema sustentabilidade empresarial, e ressaltou: “não há sustentabilidade sem respeito ao consumidor, respeito à sociedade e respeito ao meio ambiente”.
Mas, o que mais me despertou a consciência na entrevista, foi o esclarecimento feito pelo empresário acerca do que realmente é um produto sustentável: aquele que, acima de tudo, não causa mal à saúde do consumidor.
Confira trecho da entrevista com o conselheiro de várias instituições ligadas aos setores de energia e racionalização de recursos, e note as mudanças requeridas no comportamento do consumidor para atingirmos a sustentabilidade ideal.
Sustentabilidade é o lema do novo milênio, mas como conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental?
Antes de mais nada é uma necessidade da sociedade. A sociedade, nos dias de hoje, não mais admite que se gere receitas financeiras, lucros, sem dizer como conseguiu obter esse lucro. Há alguns anos não era necessário dar essa satisfação para a sociedade: se se estava tendo um lucro lícito, ilícito, se a madeira era certificada, se não era, se o produto era tóxico, se não era. Hoje, nós já chegamos num nível de consciência, de informação, onde a sociedade não mais admite que se obtenha lucro sem que se diga a origem, e essa origem tem que ter, basicamente, três coisas: respeito ao consumidor, respeito à sociedade e respeito ao meio ambiente. Se o lucro foi gerado com respeito a esses três aspectos, tudo bem, mas se você deixou algum deles de fora, você não vai sobreviver muito tempo.
E, o senhor não acha que, hoje em dia, certas empresas que não têm, realmente, atitudes sustentáveis, simulam esse posicionamento para ganhar o consumidor?
Eu estou plenamente de acordo que a maioria das empresas ainda atua dessa forma, mas muitas empresas já transferiram a sustentabilidade para a estratégia dos seus negócios, que é exatamente esse respeito pelo consumidor, pela sociedade e pelo meio ambiente. E, em fazendo isso, essas empresas vão ter a fidelização dos consumidores e também de investidores. Portanto, essas empresas serão as novas líderes de mercado.
Como o consumidor deve tentar se informar para saber se o posicionamento da empresa é, realmente, sustentável, ou se a empresa faz propaganda enganosa?
A primeira coisa que o consumidor tem que fazer é olhar o rótulo do produto. Se ele fizer mal à saúde, o consumidor já deve colocar a empresa sob suspeita, porque ela está tentando lhe vender algo que faz mal a saúde dele e de sua família. A segunda coisa que o consumidor tem que ver é de onde vem esse produto. Se o produto vem de um país estrangeiro, e é um produto, por exemplo, de baixa tecnologia; caso o consumidor compre esse produto, ele está transferindo renda para outros países, ao invés de estar dando emprego para a população carente ao seu redor. Portanto, o consumidor deve sempre buscar produtos locais, produtos fabricados na sua região, do seu estado, no seu país. Se, naturalmente, não tiver algo com que ele se contente, aí sim o consumidor pode buscar um outro produto estrangeiro para satisfazer a sua necessidade, os seus desejos. Eu não estou falando em limitar nada, eu estou dizendo em condições iguais de preferência para os produtos brasileiros. Porque essa empresa que está trazendo um artesanato de Bangladesh e tentando vender aqui por um preço vil, o que ela está fazendo é ajudar a aumentar a violência, a miséria e a fome no Brasil, portanto é uma empresa irresponsável. Outra coisa que o consumidor tem que fazer é não se deixar levar pela embalagem do produto. Hoje tem muitas empresas dizendo “ah a minha embalagem é feita de pet reciclado”, “a minha embalagem é feita de papelão reciclado”, “eu diminui o tamanho da minha tampinha em 30%”, o que é absolutamente desprezível!! A primeira coisa que o consumidor tem que saber é se o produto que está dentro é um produto que não agride a natureza e nem à sua saúde. Se foi feito em determinada embalagem, isso é secundário! O importante é o produto.
É verdade, a gente vê muitas empresas utilizando esse artifício da embalagem em detrimento do conteúdo…
Exatamente, para te vender produtos que fazem mal à sua saúde e à da sua família.
1 Comment