Toda gravidez muda uma mulher. O primeiro filho nos torna mães, mas todos os seguintes nos tornam mais mães, mais mulheres (seres criadores), mais nós mesmas. Todo puerpério (no meu caso, a gestação também) traz sombras e preciosas revelações sobre o nosso eu interior.
Tenho três filhos, e toda a gestação, parto e pós-parto deles me transformaram muito, mas meu último parto, a vinda da Estela, cavocou as fibras mais profundas do meu Ser, tanto pelo Ser dela como pelo meu novo Ser, que despontava como resultado de intensas transformações anteriores e se concretizava com a presença dela.
Minhas transformações anteriores foram devidas, principalmente, ao advento do meu primogênito tão afim (mas mais criativo, apurado e sutil… e tão corajoso, para vir da forma que veio e me transportar ao mundo mãe), e da minha primeira menina, que trouxe em si e para mim uma imensidão de consciência e inovação. Ambos gênios da autenticidade.
Se, durante minha última gestação me encontrei com minha sombra face a face, como nunca tinha tido a oportunidade anteriormente, com absoluta certeza, haveria de acontecer um parto muito forte, que revolucionaria a mim mesma.
Alguns meses após o parto, que aconteceu no início da madrugada do dia 26 de janeiro de 2015, tive um momento de forte recordação, em que, pela primeira vez, consegui transcrever aquele ensejo em que transitei fora do físico, em estado alterado de consciência, durante o período conhecido como expulsivo: os últimos instantes da partida, a despedida entre a união total dos seres e a encarnação.
Relembrei os acontecimentos interiores de forma tão intensa na ocasião, que é como se eu estivesse lá, naquela sala de parto de novo, observando o que somente eu e minha desembarcante (da nave-mãe e de uma metade no astral) e embarcante (neste planeta) vivenciamos.
Obs: A ocitocina sintética que me aplicaram, fazia-me voltar à consciência através de sua forçosa dor, quando, em alguns lapsos eu pensava que morreria, ou não, talvez, e partia novamente pra instância da coragem e da vida.
Eu sou força,
sou natureza,
sou explosão.
Eu sou o mar em tempestade,
(às vezes um barco),
sou revolução.
Você se alinha,
se encaminha,
desce e gira,
e já não posso ver.
Sou luz, sou toda sua luz,
sou portal de luz,
e você é quase toda você.
Parte de mim um túnel,
receptor de muita luz.
Energia intensa em fluxo.
Turbilhão.
Criação em exercício.
Sinto suas camadas se aproximando,
vindo as mais etéreas de cima
e a corpórea e mais alguma de mim.
Ainda há um fio
enquanto o círculo sagrado queima.
E quando você o passa,
com a última onda fulminante,
sinto a sua encarnação,
através do meu Ser.
Sou deusa,
sou mãe,
sou natureza.
E partimos.
Você chora.
Está encerrada,
limitada,
aterrada.
Te seguro sem jeito.
Você tem frio.
Estrela na madrugada terrena sente.
Parto contigo ofuscada.
Fico no limbo, dormente.
Ainda não posso renascer.
Nascer contigo é aterrador,
é partir com todo o progresso,
é despojar-me de todo o resto,
é ser tudo novo de novo,
sem nenhum saber,
só ser,
e ser amor,
só ser amor.
Já não sou mais eu,
não sou mais com você.
Aquela presença que fusionava em minha personalidade já não há mais,
está fora de mim.
Sou eu de novo,
sou um eu novo.
Não sei quem sou agora.
Sou um bebê.
Tudo é novo
de novo.
Estou nua e crua
como a Lua morta.
Carrego em meus minguantes braços
seu reflexo solar.
Meu bebê estelar,
ser de luz a iluminar
ininterruptamente meu Ser.
Re-ensina-me a viver.
Estrelava em minha barriga.
Trouxe à luz todas as sombras.
Fez-me gritar, ranger, chorar.
Derrubou meu ego
como um sol à pino
acaba com qualquer sombra.
Parto estrelada,
iluminada por ti.
Parto e sigo partindo
com todos os resquícios
do velho caminho:
as certezas,
as razões,
as crenças.
Parto meu orgulho,
todos os dias,
no seu profundo olhar.
Reparto meu amor
cada vez mais.
Parto meu ego sabido
para deixar sua luz, em mim, entrar.
Parto meu corpo energético
e me curvo ao seu pequeno físico,
para com sua luz
me banhar,
renascer
Estelar!
Ser de luz elevada,
seu nome: Estela!
Gratidão por ler! Namastê!